domingo, 2 de outubro de 2011

Fadiga


 Um cansaço do mundo que parece sobrenatural, fadiga da voz da minha mãe chamando meu nome, do meu pai falando com alguém no celular, meu irmão resmungando, dos carros passando, dos homens andando, das mulheres cantando, do ônibus cheio, do metrô lento, da risada das crianças na praça, da música alta na balada, do cheiro e gosto da cerveja, do refrigerante que não refresca, do cheiro de sexo na roupa suja.
Canseira na caminha até a padaria, até a academia, até o mercado, das risadas e o falso ‘tudo bem’ que sempre falo, da ignorância, da alienação, do cheiro de livro velho e ruim, do cheiro de livro bom e novo. Das músicas sem melodias, das melodias sem letras, dos artistas sem alma, desventura acabada com o mocinho e a mocinha que ficam juntos, do final conhecido e repetido, do romance clichê e mesmo assim admirado.
 Cansei do convencional, cansei da habitualidade, do corriqueiro, cansei de mim, cansei dos outros, cansei do computador, cansei do celular, cansei das redes sociais, cansei dos jogos, dos livros digitais, construção de memórias virtuais em HD que por mais que se assemelhem em nada me parecem com a vida real, com as cores concretas, com os cheiros legítimos.

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